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Tartarugas até lá embaixo e a ansiedade

Por em março 08, 2018

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Em seu novo livro, John Green (autor de “A Culpa é Das Estrelas” entre outros young adult populares) conta a história de Aza Holmes, uma menina de 16 anos que tem TOC, Transtorno Obsessivo Compulsivo – assim como o autor. Não vou mentir: a trama do livro, que acompanha Aza e sua amiga Daisy tentando solucionar o misterioso desaparecimento de um bilionário pela recompensa, não é das mais interessantes. Tem seus momentos, mas de maneira geral é pouco profunda e muito “teen”, fórmula dos livros de Green.

No entanto, as espirais de pensamento de Aza são profundas. Infinitas. Reais. Eu sofro de ansiedade há… bem, a maior parte da minha vida. Já fui diagnosticada também com depressão crônica e síndrome do pânico. E, o engraçado (ou trágico), é que todas essas doenças – inclusive o TOC – apesar de se manifestarem de maneiras diferentes, têm o mesmo princípio: o pensamento excessivo.

Lendo este livro eu fiquei boba com algumas passagens, frases e pensamentos da protagonista, pois eles eram na verdade meus. Eu já senti aquilo. Eu já vivi aquilo. Talvez em menor escala, talvez sem as consequências físicas do TOC, mas na minha cabeça os pensamentos fluíam como os dela: incansáveis, ininterruptos e sem misericórdia. É como se eu convivesse com um inimigo no mesmo corpo, constantemente tentando me destruir de dentro da fora. Eu, Aza, John Green. E muitos mais.

Os transtornos mentais afetam uma enorme parte da população mundial, mas são considerados tabu ou até mesmo fingimento. E livros como este, personagens como esta, ajudam a desmitificar esses transtornos e trazê-los para luz, para a discussão na sociedade. Então obrigada, John Green, por sua coragem em se expor desta maneira ao mundo e ajudar todos nós a nos sentirmos mais “normais”, ou melhor, menos incompreendidos. Gostaria de poder ter lido este livro quando era mais nova, menos resolvida: teria me ajudado muito saber que não sou só eu que sou torturada pelos próprios pensamentos.

Aza não toma seus medicamentos regularmente pois tem “um medo, lá no fundo, de que precisar tomar remédio para ser uma pessoa normal fosse errado” (p. 71). “Era muito esquisita e deprimente a ideia de que eu só seria uma pessoa normal se ingerisse determinadas substâncias capazes de mudar quem eu era” (p. 156). Sabe quem mais não tomava o remédio direito, chegando a ir pro hospital por conta dos efeitos colaterais da abstinência e hoje em dia tem sequelas irreversíveis?

Prazer, Gabriela.

P.S.: hoje eu tomo direitinho <3

Uma conversa que se passa entre a protagonista e seu interesse amoroso, Davis, resumiu tão simplesmente o início do meu problema com ansiedade que, quando li, não consegui acreditar. Como algo tão simples assim pôde me levar tantos anos para compreender e aceitar, além de me causar tanta dor?

“Ele: E a questão é que, quando a gente perde alguém, a gente se dá conta de que no fim
vai perder todo mundo.
Eu: É verdade. Depois que a gente se dá conta disso, não tem como esquecer.” (p. 81)

E uma coisa interessante do livro é que, ao contrário do que se pode esperar, Aza não se cura. Não se cura pois não há cura para este tipo de transtorno, há apenas tratamento, acompanhamento médico e esforço. As decaídas acontecem, e não devem ser motivo de vergonha. O importante é seguir em frente e continuar tentando. Após muitos anos de terapia, finalmente consigo entender isso.

Meu sofrimento não acabou, mas eu não posso deixar ele dominar minha vida. E acredito, honestamente, que este livro pode ajudar outras pessoas, principalmente jovens que estão se sentindo sozinhos e desamparados, a dar um passo em direção à essa conclusão apaziguadora.

Aproveite o momento. Sofra o momento. Viva o momento. O que era pra ser, foi, e o que for pra ser, será. Busque ajuda e seja feliz, porque – não importa o que a voz grita dentro de sua cabeça - você merece.

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