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Desafio Literário: 12 mulheres em 2020

Por em dezembro 30, 2020

No começo desse ano vi no instagram um desafio literário chamado “12 mulheres em 2020” cuja proposta era justamente a leitura de 12 livros escritos por mulheres ao longo do ano. O que me chamou a atenção nesse desafio foi que seu objetivo ia além de aumentar a quantidade de autoras lidas mas também a diversidade entre elas, propondo uma fuga do padrão “europeia-branca”, já mais reconhecido no meio literário. 

O desafio me ajudou a enfrentar esse ano cheio de incertezas e medo, encontrando companhia na leitura durante a quarentena. Estou feliz de ter conseguido concluir ao menos isso em 2020 rs. Faz tempo que li todos então minha mente claramente já não se lembra de detalhes, mas decidi escrever um pouco sobre minhas 12 leituras e compartilhar essa experiência.

1. Livro de uma autora negra: “Kindred – Laços de Sangue”, Octavia E. Butler


A protagonista do livro é Dana, uma mulher negra e empoderada da década de 1970 que de repente se vê transportada para o século XIX, no Sul dos Estados Unidos pré-Guerra Civil. A leitura é hipnotizante e trata de assuntos como a escravidão, racismo e machismo. Muito potente e bem escrito, impossível parar de ler uma vez que comecei. Foi um dos meus favoritos do ano, recomendo muito. 


2. Quadrinho escrito por uma mulher: “Francis”, Loputyn


Uma curta história sobre o encontro entre a jovem e rebelde bruxa Melina e o espírito encantado de raposa, Francis. Eu curti muito essa HQ pois além de ter as ilustrações mais lindas do mundo (tipo, sério, quero tatuar tudo em mim), ela toma um rumo inesperado e acaba trazendo uma reflexão sobre a nossa “busca por nós mesmos” e pela nossa liberdade.


3. Livro de uma autora lésbica ou bi: “Vermelho, Branco e Sangue Azul”, Casey McQuiston


De todos da lista, esse foi o livro que menos me cativou, mas isso não significa que seja ruim. Ele é bem estilo clichezão de Young Adult e, portanto, um tanto quanto previsível. Contudo ele traz dois protagonistas homens em um romance e aborda questões de representatividade e preconceito num cenário político. Dou meus parabéns a autora por ter conseguido trazer de maneira natural assuntos relevantes para um formato já tão padronizado, possibilitando que diferentes tipos de leitores possam se reconhecer nos livros.

4. Livro de uma autora gorda: “O Poder”, Naomi Alderman


Esse livro deveria ser leitura obrigatória. Se trata de uma ficção dentro de outra ficção, e é escrito com tal maestria que você não só se prende à história, mas basicamente se teletransporta para dentro do livro e passa a vive-la! Imagine que mulheres ao redor do mundo de repente desenvolvessem o poder de soltar raios pelas mãos. O que aconteceria com a política, com a religião, a economia e a sociedade quando o “sexo frágil” se tornasse extremamente poderoso? Seriam as mulheres, tão oprimidas no passado, líderes mais bondosas e justas para a sociedade? Como os homens reagiriam? Sério, LEIA ESSE LIVRO e vem nessa brisa muito louca – e, ouso dizer, necessária – comigo! Tapa na cara total!

5. Livro de uma autora asiática: “Contato de Emergência”, Mary H.K. Choi


Esse livro foi uma leitura deliciosa e instigadora de autorreflexão, indo além de um Young Adult comum. Nele acompanhamos o surgimento da amizade entre Penny e Sam, dois jovens introvertidos e solitários que, entre angústias e risadas, formam uma conexão real e valiosa via mensagens de texto. Engraçado e triste, fala de maneira realista sobre os lados menos positivos da vida, e sobre aquelas pequenas pontas de felicidade que nos mantém vivos. Gostei muito!

6. Autobiografia de uma mulher: “Rita Lee – Uma Autobiografia”, Rita Lee


Eu já gostava da Rita Lee, mas ler sua autobiografia foi uma experiência completamente diferente. Que mulher foda! Ela escreve de uma maneira tão leve e cômica que parece que você está sentada numa sala ouvindo-a contar histórias de sua juventude enquanto tomam um chá, desde os momentos mais tristes até as loucuras pelas quais ela é conhecida. Sua descrição de uma São Paulo antiga, que eu nunca conheci, me trouxe um sentimento de nostalgia. Ótima leitura, virei mais fã ainda.

7. Livro de uma autora latino-americana: “Tua”, Cláudia Piñeiro


Livro curtinho e envolvente que comecei a ler sem muitas expectativas, mas não consegui largar e terminei em poucas horas! Uma história muito bem escrita sobre uma mãe de família que desconfia da fidelidade de seu marido. Os personagens principais são bem desenvolvidos sem se fazer necessária muita informação de background, pois só pelos pensamentos e atitudes já ficam claras suas personalidades. A trama se desenvolve rapidamente e de uma maneira inesperada. Esse livro foi uma ótima surpresa e com certeza vou procurar ler outros da autora argentina.

8. Livro sobre feminismo: “Sejamos todos feministas”, Chimamanda Ngozi Adichie


Curto, direto e necessário. O livro é uma adaptação do discurso TED feito pela autora, que você pode assistir clicando aqui. A escrita é bastante fluída e de fácil compreensão, a maneira como ela aborda o assunto é precisa e consegue desmistificar aquele peso negativo da palavra “feminista” e trazer a perspectiva de um futuro melhor para meninos e meninas.


9. Livro de uma autora com mais de 50 anos: “Um lugar bem longe daqui”, Delia Owens


Apresento-lhes meu livro favorito. Amei do começo ao fim, devorei os capítulos e vivi intensamente cada página. A narrativa nos apresenta concomitantemente dois tempos: o crescimento de Kya, uma menina que vive no brejo (parecido com um pântano) e que, apesar de ter uma criação muito longe do convencional, se torna uma mulher brilhante; e a investigação de um assassinato do qual ela, já adulta, se torna a principal suspeita. Enquanto vamos acompanhando sua vida cheia de adversidades e o desenrolar da investigação, é impossível não se envolver com a história e se apaixonar pela protagonista. A autora do livro é bióloga e apresenta as belezas do brejo e da natureza em geral de uma maneira única e envolvente. Esse livro é triste, real, doloroso; e, ao mesmo tempo, belo, puro, cheio de significado. Boatos de que será lançado um filme em breve, então recomendo ler essa OBRA PRIMA o quanto antes.

10. Livro de uma autora com menos de 30 anos: “Pessoas Normais”, Sally Rooney


Ta aí mais um livro que eu peguei sem muitas expectativas e me surpreendeu. É um livro real, que acompanha os jovens irlandeses Connell e Marianne em busca de seus devidos lugares no mundo em meio a problemas sociais, familiares, psicológicos e amorosos. É cativante acompanhar os personagens imperfeitos vivendo suas vidas, errando e acertando, como pessoas normais. O livro foi descrito pelo jornal The Guardian como o fenômeno literário da década, e a autora de apenas 29 anos como a voz da geração millenial. Recentemente foi adaptado para série pela Hulu e tem recebido boas críticas. 

11. Clássico escrito por uma mulher: “Mrs. Dalloway”, Virginia Woolf


Esse é um clássico não só de Woolf, mas da literatura em geral por ter sido pioneiro na exploração do inconsciente humano por meio de fluxo de consciência (quando a história se desenvolve pelos pensamentos do personagem, não pela descrição de ações). O livro narra um dia na vida da socialite Clarissa Dalloway e se passa na Inglaterra pós-Primeira Guerra Mundial. A leitura não é fácil devido a intensidade e ininterrupção do fluxo de consciência de diversos personagens, fazendo o leitor mergulhar de pensamento em pensamento sem descanso. Achei inovador para a época e ousado, considerando este formato tão complexo. A história em si não é nada super atraente, apesar de trazer sim alguns pontos “tabu” e interessantes à tona, como por exemplo um romance homossexual vivido pela protagonista em sua juventude.

12. Livro de uma autora brasileira: “Extraordinárias – Mulheres que revolucionaram o Brasil”, Duda Porto de Souza e Aryane Cararo


Desde que esse livro foi lançado eu estive morrendo de vontade de ler, e o desafio foi uma boa “desculpa” para desembolsar um dinheirinho nele. Este é um livro de não-ficção que apresenta figuras femininas importantes na história do Brasil, que infelizmente não são tão reconhecidas nas aulas de história. O trabalho gráfico também merece destaque, com uma capa holográfica e incríveis ilustrações feitas por mulheres do início ao fim. 

Extra: “Pequenos incêndios por toda parte”, Celeste Ng


Depois que terminei o desafio, li esse livro e achei tão legal que acredito merecer uma menção aqui na minha lista rs. A construção dos personagens cuidadosa e a narrativa intrigante com reflexões sociais te mantém colada no livro. Também foi adaptado para série pela Hulu, e estou ansiosa para assistir.


É isso ai! Se tiver recomendações de livros ou outras “categorias” para o desafio, deixe um comentário :)


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